"BRASÃO DA FAMÍLIA CARRANO"

Brasão da Família Carrano

Antes do registro de considerações sobre o brasão da Família Carrano, é necessário conhecer o conceito de "Heráldica", que segundo Vera Lúcia Bottrel Tostes, em seu Princípios de Heráldica, se define como: "a arte e a ciência que determina, produz e estuda os brasões, interpreta as origens e o significado simbólico e social da família, nação ou instituição."

O brasão da Família Carrano, reproduzido acima, foi extráido da obra Trenta Centurie di armi gentilizie, de Carlo Padiglione, onde se encontra a sua descrição:

"De vermelho, e uma roda de ouro, com quatro estrelas do mesmo, três mal ordenadas em cima e uma na ponta do escudo."

As expressões de vermelho e de ouro significam, na linguagem técnica da heráldica, da cor vermelha e da cor de ouro. Quanto à que inicia a descrição do brasão ela se refere, sempre, ao campo ou fundo do brasão, sobre o qual se colocam as peças.

Vale notar que a ordem heráldica do brasão coloca em primeiro lugar o campo, a peça principal, seguido dos elementos secundários, se existirem, os quais nunca devem superar o numéro de três.

Há na Heráldica um significado simbólico de cada esmalte. Assim, o vermelho é testemunha da nobre condição social e das virtudes militares dos antepassados, representando o ânimo intrépido, valoroso, grandioso e forte dos guerreiros. Também representa, mais genericamente, o homem decisão, o homem de ação, ainda que em tempo de paz, com a virtude da magnanimidade e da generosidade.

Quanto ao ouro, deve ser salientado que é o mais nobre dos metais brasônicos, representando o Sol, que, com a sua luz e calor, mantém sobre a Terra a vida humana. Significa riqueza, amor e honra. Na Heráldica, é utilizado para representar, metafóricamente, o que há de mais nobre: a fé, a justiça, a nobreza, a glória, a sapiência, a generosidade, a magnanimidade, a força e outras virtudes.

Marc'Antonio Ginanni, estudioso da Heráldica que viveu no Século XVIII, autor da obra A Arte do Brasão, informa-nos que a permissão para o uso da cor vermelha em um brasão, juntamente com o dourado, somente era dada aos Príncipes e Cavaleiros e aos que eram de ilustre sangue.

Para o uso de mais de um esmalte sobre o escudo é preciso dividi-lo em partes, o que é chamado, na Heráldica, de partição, que, geralmente, ocorre com a divisão de em duas ou quatro partes.

Os escudos, quanto à forma, podem ser: antigo ou sanítico (alongado na extremidade do bordo inferior), espanhol ou português (bordo inferior arredondado em semicírculo), oval (usado geralmente por rainhas e pelo clero), tornês ou quadrado (era colocado na lança, durante os torneios, à guisa de bandeiras), suíço (bordo superior em ponta no centro), lisonja (em losango), inglês (com saliências no bordo superior, foi a forma usada nas Armas Imperiais do Brasil), italiano ou barroco (bordo superior com ornatos variados), alemão (chanfrado no flanco destro) e moderno ou francês (bordo inferior em ponta). Este último é o escudo que compõe o brasão da Família Carrano.

Quanto às figuras heráldicas, alguns autores as consideram de menor importância, não sendo esta, contudo, a opinião de estudiosos do assunto, como a Professora Vera Lúcia Bottrel Tostes, que nelas vê graça, beleza e um simbolismo cheio de espiritualidade e virtude.

Assim, a cruz é simbolo da fé e do cristianismo, o leão representa força e coragem, o cão a fidelidade, a águia a pujança e a vigilância, o cedro a eternidade, o sol a grandeza e o sino a vocação religiosa.

Já a roda de carro, existente no brasão da Família Carrano (com seis raias), era, antigamente, peça que simbolizava a instabilidade da fortuna, passando, na Heráldica, a representar uma mente nobre e desligada do que não é essencial. No Brasonário de Portugal ela aparece (com oito raias) nos brasões das Famílias Belém (ou Belhém), de origem holandesa, Stockler, de origem alemã, e Mason (ou Masson). A roda pode, também, estar relacionada com a origem do sobrenome Carrano.

Entretando, a mais bela figura do brasão da Família Carrano é, certamente, a estrela, que ali aparece quatro vezes. É a peça mais comum na Heráldica, podendo ter até dezesseis raios ou pontas, embora se apresente, quase sempre, com cinco (na França, Espanha, Inglaterra, Bélgica e Polônia) ou seis pontas (na Alemanha e na Holanda). Na Itália, geralmente encontramos nos escudos estrelas de até cinco raios, embora também apareçam algumas com seis ou mais pontas.

Não podemos deixar de mencionar que uma estrela serviu de guia para os que se dirigiam ao local onde nasceu Jesus. Outrossim, ela é segura indicação da rota para quem conduz uma embarcação à noite. estes dois aspectos devem ter sido considerados na fantasia dos homens quando resolveram colocá-la no escudo, esperando uma chegada tranqüila ao porto espiritual ou material.

As estrelas contidas no brasão da Família Carrano possuem seis raios e estão dispostas de modo bem particular.  De fato, há uma delas na ponta do escudo e três na parte alta, estas não colocadas em fila, daí a expressão mal ordenadas utilizada na retrocitada descrição de Carlo Padiglione.

Além dos elementos internos, que compõem o interior do escudo e dizem respeito à família do portador de um brasão, há os elementos externos, que mostram o grau nobiliárquico, a hierarquia eclesiástica ou as armas de uma cidade e são compostos de: elmo (proteção da cabeça usada pelos guerreiros contra qualquer tipo de agressão), coroa (ornato circular de metal usado na cabeça para demonstrar domínio e honra), virol (rolo torcido de estofo colocado sobre o elmo, para proteção contra os golpes dados sobre a cabeça), timbre (figura assentada sobre o elmo ou o virol), paquifes e lambrequins (ornatos que saem do virol de forma mais ou menos caprichosa, com recortes irregulares e sinuosos, lembrando plumas ou folhas de acanto), suportes e tenentes (figuras que ladeiam o escudo), pavilhão (manto ou mantel que envolve o escudo), divisas e grito de guerra (palavra ou grupo de palavras usado como como incentivo ou ordem) e condecorações (quando o portador de um brasão é também condecorado por qualquer ordem honorífica, esta pode figurar como elemento externo).

No brasão da Família Carrano há um elmo de perfil à destra, com duas grades, próprio de Cavaleiro de pelo menos duas gerações nobres. Ele mostra uma condecoração (colar) e é cercado por paquifes nos esmaltes dourado, azul e vermelho.

O exame do brasão dos Carranos permite-nos conhecer a intenção de quem o elaborou, formando uma ponte entre novas e antigas gerações da Família. Daí a sua importância.

O autor, em viagem à Itália realizada em março de 1997, tomou conhecimento da existência de um brasão da Família Carrano na Sicília diferente do supracitado. Ele teria como timbre uma águia e estaria representado em um escudo partido em dois: a primeira parte com campo azul e cinco estrelas de prata e a segunda com fundo prateado e três bandas.

 

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